30 de setembro de 2008 (Terça-feira)
Levantamos cedo, como é a nossa rotina na expedição, tomamos café e partimos em direção a Pavuru. Praticamente toda a aldeia foi com a gente até o porto. As mulheres da etnia Trumai são bonitas e não mostraram nenhuma inibição com a nossa presença. Estiveram sempre presentes em todos os momentos em que lá permanecemos.
O Aroldo nos informou que, ultimamente, tinha um índio bravo que os visitava quase todas as tardes. Joga pau na aldeia e desaparece no mato. Eles suspeitam que o real interesse desse índio é roubar mulheres, prática muito comum antigamente entre as etnias. Eles têm esperança que, a qualquer momento, aconteça o contrário: o prisioneiro será o agressor.
Chegamos
por volta das 10
horas na aldeia Moigu, da etnia Ikpeng, que tem o Melobu como cacique. Ele usa um
adorno de pele de onça na cabeça. Este local é conhecido como Pavuru e estava
sendo realizada uma conferência de saúde. Tem campo de avião e um grande
restaurante, entre outras instalações.
O Sérgio foi recebido
por vários caciques no porto, destacando-se: Aritana, Megarom, Cuiuci, Melobu,
Jacalo, Raoni e Tininim.
Durante a conferência foi dada a palavra ao Sérgio que, emocionado, falou para uma atenta platéia de caciques de todo o Xingu do objetivo de sua expedição, que era resgatar uma parte da história do Brasil remarcando, 50 anos depois, o Centro Geográfico do Brasil, demarcado em 1958, por determinação do governo Juscelino Kubitschek, a pedido do marechal Rondon, que teve como chefe os Irmãos Villas Bôas, e com a participação dele – Sérgio Vahia, Franklin de Andrade Gomes, geólogo responsável pela determinação do Centro, Dilton Torres da Mota, jornalista, Raimundo e Clemente, funcionários da FBC, Fundação Brasil Central, de um chileno e do jovem inglês Adrian Cowell, hoje renomado escritor e cineasta, e ainda como participantes vários índios: Raoni, Pionim, Patacu, Kramuro, Brecoché, Cobre e Pitissacá.
Disse, também, que freqüentava
o Xingu há muitos anos e que a iniciativa de remarcar o Centro era pessoal, não
havendo nenhum financiamento
oficial, a não ser a doação dos quatro barcos e três motores, pela Petrobrás, e que seriam, ao final da expedição, também doados,
sendo três ao Raoni, e um ao Jacalo
. Sérgio prosseguiu afirmando que iria
remarcar o Centro hasteando a bandeira do Brasil, com a presença de
representantes dos três povos, que deram origem ao povo brasileiro: um índio,
um branco e um negro. Momento em que foi aplaudido por todos os caciques que ali
se encontravam.
Finalizando, afirmou que o Centro do Brasil fica em terra indígena, e que, talvez, seja esse o motivo pelo qual houve esse grande esquecimento da demarcação do Centro Geográfico do Brasil, ocorrida em 14 de outubro de 1958.
Almoçamos em Pavuru, e seguimos em direção a Diauarum. Neste dia, dormimos numa praia. Local não muito agradável devido a areia fina, que penetra em tudo. O índio Kuikuro, designado pelo Jacalo, que iria com a gente até a balsa para levar o banco doado pelo Sérgio, decidiu regressar para Pavuru.