19 DE OUTUBRO 2008 (Domingo)


Domingo. Despertamos às 4 horas da madrugada, fizemos café, colocamos os últimos pertences nas caixas e passamos os cadeados. Para não levarmos as chaves até São José do Xingu, as enterrei no pé de uma árvore de fácil identificação, a que estava pendurada a lamparina. Coisa de índio. É assim que eles agem. As caixas, como já observamos, são para evitar aquela mão-boba que faz parte da cultura dos índios, de um modo geral, e também dos demais povos que deram origem ao povo brasileiro.

Aqui essa coisa funciona com freqüência permanente entre todas as etnias. Há, porém, uma significativa diferença nesse tipo de comportamento, os Kaiapós são mais resolutos. Chegam, olham e tomam uma decisão firme e sem rodeios: estou precisando disso e o assunto está encerrado. São decididos mesmo. Nada de porém, todavia, contudo, no entanto etc.

Passamos numa aldeia vizinha e o Tarepá comunicou a eles para tomarem conta do nosso acampamento, que era ordem do cacique Bedjai. A coisa lá funciona assim. O chefe mandou, tá falado.

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Chegamos na balsa às 7h50. Gastamos 2h45 na viagem. Os familiares do Tarepá estavam na balsa nos esperando. Ele levou para os familiares mutuns e peixes assados, ovos de tracajás e bananas.

Fui para São José do Xingu e o Tarepá foi para a aldeia dele, que fica perto da estrada. Antes, passei na aldeia do Bedjai (Piaraçu) para falar com o Raoni, que ali se encontrava. Ele estava participando de uma reunião na casa dos homens. O machismo entre os índios é a regra geral, homens de um lado e mulheres, de outro. Essa separação é nítida e eles aceitam isso com naturalidade.

Como ia comprar gasolina para os nossos barcos, o Raoni me pediu para comprar 200 litros para ele. Na verdade, o pedido dele é uma ordem. Peguei carona, na aldeia Piaraçu, na camionete do Geremias. Ao chegar na cidade, liguei para Glória, minha mulher, Irani e Reinaldo. Pedi a Glória e a Irani que dessem notícias ao Paulo Castilho, o homem do blog.

A equipe da TV chegou no hotel na parte da tarde. Eles vieram de avião próprio. O repórter chama-se Renato Rosa, o cinegrafista Valmir Pereira e o auxiliar Esmael Pereira. O piloto chama-se Ivo.

Comprei 375 litros de gasolina, sendo 175 para a expedição, e 200 para o Raoni. O Geremias, que é amigo do Raoni e dono do supermercado Xingu, levou a gasolina de volta para a aldeia, a da expedição e a do cacique.

Na parte da tarde, conversei com a equipe de TV sobre a nossa viagem no dia seguinte. Eles não estavam preparados para enfrentar aquela missão. Não tinham redes, repelentes e roupas adequadas. Ainda bem que me ouviram e compraram alguma coisa. Fui ao posto de gasolina à noite, que também funciona como churrascaria e lanchonete. Seu dono chama-se Nelson e ele é do Paraná.

Durante o dia, falei na rádio local sobre a remarcação do Centro. Seu dono e também repórter é o Álvaro, figura simpática, que me recebeu bem em sua emissora.

Nas idas a São José do Xingu, fiquei conhecendo o dono de um pequeno bar, de nome Dionísio. Ele gosta de plantar árvores de lei em seu sítio. Fiquei conhecendo também o Dr. Luiz, pois fui ao Posto de Saúde de São José para ele examinar a minha perna esquerda, que tinha um espinho de tucum cravado, durante a feitura da picada, no que popularmente se chama batata da perna. Ele me aconselhou a não tentar tirar o espinho com agulha, canivete ou qualquer outro objeto cortante. Recomendou simplesmente compressas de água quente. Funcionou.


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