Introdução


Tudo começou há cerca de dois anos quando Sérgio Bacelar Vahia de Abreu teve a idéia de fazer a remarcação do Centro Clique na foto para ampliarGeográfico do Brasil, no momento em que completavam-se cinco décadas da expedição original, liderada pelos irmãos Villas Boas - Orlando e Cláudio, e que contou com a participação dele.

Logo no início, esbarramos com um problema que parecia ser de fácil solução: quais as coordenadas do Centro? Para começar a pesquisar o assunto, dirigimo-nos ao Serviço Geográfico do Exército, no Morro da Conceição, no Rio de Janeiro. Para nossa surpresa, o Exército brasileiro não tem, em seus arquivos, essas coordenadas. Depois, foi a vez do IBGE, que também não tem este registro.

Resolvemos procurar na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, mas ali também não existe o registro. Já que estava na Biblioteca Nacional, resolvi folhear o livro The Heart of the Forest, do cineasta inglês Adrian Cowell, escrito na década de 1960. Cowell participou de expedição de 1958. Lá está a composição do toda a Expedição, inclusive com uma foto do Sérgio Vahia marcando o rumo da picada, com uma pequena bússola, e, em outra foto, entalhando o marco de madeira com uma faca de combate, mas Clique na foto para ampliar sem nenhum registro das coordenadas.

Onde achá-las? Não se tinha a menor idéia. Eis que um dia, Sérgio Vahia vasculhando seus arquivos na pousada da filha Fernanda, em Arraial do Cabo, achou tudo o que a gente procurava: recortes do Correio da Manhã, de 1959, dando conta da expedição e o mapa, com as coordenadas do Centro, determinadas pelo geólogo Franklin de Andrade Gomes, responsável técnico pela localização e marcação do Centro, contratado pelo Governo Federal.

À época, Franklin Gomes era funcionário da PROSPEC, uma empresa especializada na pesquisa para localização de recursos minerais. Mais tarde, trabalhou na National Aeronautics and Space Administration (NASA), nos Estados Unidos, até falecer de um infarto.

O interessante é que, depois, descobrimos que a indicação das coordenadas do Centro Geográfico são apresentadas no livro Quarup, de Antonio Callado, publicado pela Editora Nova Fronteira, na página 377, da 21ª reimpressão.

Clique na foto para ampliarConhecidas as coordenadas do Centro – 10º 20’ S e 53º 12’ W de Greenwich –, Sérgio Vahia começou a organizar a nova expedição. Elaborou um esboço de orçamento, que previa custo de cerca de R$ 40 mil, com os seguintes itens básicos: barcos, motores, gasolina, alimentação, transporte, presentes etc.

Em seguida, iniciou gestões junto à Fundação Nacional do Índio (FUNAI) Clique na foto para ampliarpara obter autorização para ingressarmos no Parque Indígena do Xingu, o que foi feito por Guilherme Carrano, sobrinho de sua mulher, Irani.

Vencida essa etapa, surgiram novas necessidades. Seria possível encontrar quem financiasse a expedição? Pensamos, inicialmente, que a TV Globo pudesse se interessar pelo projeto e nos ajudar. Falamos com o Rogério Marques, que, na época, era um dos editores do Fantástico, e com a Maria Luiza Silveira, jornalista especializada na questão indígena. No entanto, a direção da TV Globo não aprovou o projeto.

A partir daí, saímos à procura de ajuda. Falei com o meu amigo Roberto Motta Brandão, que é aposentado da Petrobras, e ele me deu o “caminho das pedras” na empresa. Assim, conseguimos o patrocínio para quatro barcos e três motores.

Nesse ínterim, surgiu a possibilidade de se fazer um filme da expedição, através de um contato da Fernanda Vahia. O projeto se concretizou e uma equipe esteve presente, do início ao fim da expedição, fazendo as filmagens. O filme deve ficar pronto no segundo trimestre de 2009. A equipe de filmagem foi composta por Daniel Santiago, diretor, pelo cinegrafista Aloysio Raulino, pelo Guto, assistente do Aloysio, pelo eletricista Alê, e por Francis, relações públicas e encarregado da infraestrutura do grupo (passagens, hospedagem etc).Clique na foto para ampliar

Sérgio Vahia Filho, mais conhecido como Tito, veio dos Estados Unidos, onde reside há 13 anos,  especialmente para se integrar à expedição. Trouxe de lá uma filmadora Sony e gravou 7 horas, documentando a expedição em seu dia-a-dia. Seu projeto é editar todo o trabalho em DVD.

Sérgio Vahia, como sempre faz quando se envolve em um projeto, trabalhou duro para sua montagem e  execução. Não mediu esforços nessa empreitada. Ele pagou do próprio bolso todas as despesas de transporte, alimentação e presentes para as aldeias indígenas. Só de anzol e linha de pescar comprou 90 quilos, que foram sendo distribuídos em cada aldeia que a expedição passava, às margens do rio Kuluene (principal formador do rio Xingu) e Xingu, até a balsa na BR-80, que fica a 42 Km da cidade de São José do Xingu.

A Expedição saiu de Goiânia em direção a Brasília, quando teve o seu início formal em direção ao Centro Geográfico do Brasil para as tomadas de imagens para o filme. Dali voltou para Goiânia e partiu para Barra do Garças, no dia 21 de setembro de 2008. Depois, seguiu para Nova Xavantina e Canarana, onde permaneceu por alguns dias. No dia 27 de setembro, partimos em direção ao rio Kuluene, na aldeia dos Kuikuros, que fica próximo da cidade Gaúcha do Norte.

No caminho, passamos pela Fazenda Hotel Xingu, compramos cerveja e conversamos com o gerente Clarí. O dono do Clique na foto para ampliarhotel estava lá com o seu avião estacionado e nos deu boas informações sobre a distância dali à aldeia dos Kuikuros.

Quando chegamos na aldeia já era noite. O Jairo, índio Kuikuro que mora em Canarana, já estava lá a nossa espera, pois ele foi à frente de motocicleta e estava encarregado pelo Piracumã, que é irmão do Aritana, ambos da etnia Yawalapiti, de nos guiar até o rio Kuluene.

Em Canarana, cidade com grande contingente de gaúchos que para lá se deslocaram em busca de terras para plantar soja, compramos os últimos itens para a expedição: cartuchos, chumbadas, anzóis pequenos, iscas de soja e minhocuçu. Canarana foi o ponto final de partida da expedição na parte considerada integrada à civilização moderna, isto é, com Internet, bancos, hotéis, restaurantes etc.

Clique na foto para ampliarDali para frente, ingressamos em outro mundo, dos rios, das matas e, naturalmente, dos peixes e dos bichos, os mais variados como onças, antas, capivaras, pacas, porcos-do-mato, cutias, mutuns, jacus, cujubins, macacos-prego e macacos-aranha (coatás), jacarés, tracajás, tucunarés, pintados, cacharas, armal, barbado, bicuda, corvina, curimbatá, jaú, jurupoca, mandi, mandubé, piranhas preta e caju, matrinxã, traíra, trairão, pacus, pacus prata e peva, pirararas, piraíba, piau, e piau três pintas, cobras etc. Outra novidade foram as abelhas africanas e nativas, que nos abordavam permanentemente em razão de suas necessidades de sal.

Esse era o mundo que nos esperava e que continua lá graças à existência do Parque Indígena do Xingu. Acho que se não fosse a existência desse Parque, os fazendeiros já tinham derrubado a mata até às margens do Xingu para criar bois e plantar soja. 

O trajeto percorrido pela expedição, dos Kuikuros ao porto de entrada do Centro Geográfico, no rio Xingu, foi de cerca de 400 km, durante cinco dias.

Vale a pena registrar que, em 1995, estivemos em Canarana para examinar a possibilidade de descermos o rio Sete de Setembro, um dos afluentes do Xingu, até às aldeias das várias etnias.

Eu, o Sérgio e o José Luiz, também funcionário aposentado do Banco Central do Brasil, como o Sérgio, fizemos esta viagem de carro. Do Rio de Janeiro até Canarana são 2.250 Km. Fomos em três dias, sem pressa. Na época, o projeto do Sérgio era limitado a um passeio de barco. A remarcação do Centro surgiu depois.


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